Custo Logístico na receita líquida
O custo logístico consome 15% da receita líquida da cadeia produtiva do aço no Brasil. Segundo Luis Henrique Teixeira Baldez, presidente executivo da Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga (Anut), é o valor mais alto entre os produtores siderúrgicos mundiais. O custo médio global é de 9%, excluindo a China do cálculo, uma vez que não existem dados precisos sobre os preços praticados internamente naquele país.
A indústria do aço depende do sistema ferroviário. Insumos siderúrgicos como minério de ferro e carvão são transportados por trens. Um comboio ferroviário de cem vagões leva oito mil toneladas de produtos acabados, enquanto uma carreta transporta entre 25 e 30 toneladas. “O problema é que a infraestrutura ferroviária no Brasil é insuficiente e cara”, diz Baldez.
Segundo a Anut, o frete ferroviário é, na média mundial, 40% inferior ao rodoviário. Mas, no Brasil, o custo ferroviário é apenas 5% menor. Outra alternativa de transporte, a cabotagem, tem custo sete vezes maior do que a navegação internacional, quando se calcula o valor da tonelada por milha transportada. Essa situação faz com que a cabotagem responda por menos de 7% do aço transportado.
Em uma comparação internacional entre 18 países realizada em 2016 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a qualidade das rodovias brasileiras ficou em 16º lugar, a eficiência ferroviária obteve o 17º posto e a infraestrutura portuária ficou na 18ª colocação.
O parque siderúrgico brasileiro está concentrado principalmente no Sudeste, mas o consumo espalhado no país. Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), diz que o problema logístico retira competitividade do aço brasileiro no Norte e Nordeste, mercados que estão sendo abastecidos principalmente por fornecedores chineses.
O frete de Shangai a Fortaleza, na casa de US$ 50 por tonelada, é menor do que entre Minas Gerais e Ceará, que, por caminhão, pode chegar a US$ 100 por tonelada.
A Usiminas abastece o Norte e o Nordeste por meio de sua usina em Cubatão, no litoral paulista, onde a companhia detém um Terminal de Uso Privado (TUP). O transporte é feito por cabotagem. O principal destino é a unidade Soluções Usiminas em Suape (PE), onde são realizados serviços como corte e solda e a fragmentação do aço plano de acordo com as necessidades dos clientes.
“O que nos torna competitivos nesses mercados é nossa aposta em produtos de alto valor agregado e o relacionamento com os consumidores”, diz Sergio Leite, presidente da companhia. No Norte e Nordeste, porém, a Usiminas trabalha com margens de lucro reduzidas. “Em parte, a margem é consumida pelo custo logístico”, afirma o executivo.
No ano passado a Usiminas deu início a um processo de reestruturação de seus negócios com o objetivo de rever processos para obter redução de despesas e aumentar a receita. A otimização da logística é uma das prioridades. “Fazemos uma análise constante das oportunidades para buscar as soluções de transporte de menor custo”, diz.
O transporte dos produtos da ArcelorMittal Aços Longos para atender seus dois hubs logísticos e seus cem pontos de distribuição no país é realizado principalmente por rodovias. O CEO, Jefferson De Paula, diz que a companhia adota uma ferramenta big data analytics para analisar rotas de caminhão e cargas, garantindo que o veículo circule carregado na ida e na volta, neste último caso normalmente com sucatas que serão incorporadas ao processo industrial. “A gestão logística eficiente gerou uma economia de R$ 100 milhões nos últimos dois anos”, diz De Paula.
A Vallourec, produtora de tubos de aço sem costura, possui uma unidade de mineração, outra de floresta plantada e duas usinas integradas, todas em Minas Gerais.
Além disso, tem uma filial de tubos soldados de grande diâmetro e uma empresa especializada na prestação de serviços de revestimento anticorrosivo, ambas no site industrial Tubos Soldados do Atlântico (TSA), em Serra (ES). E ainda uma unidade especializada em soluções e serviços para o mercado de óleo e gás: a Vallourec Transportes e Serviços (VTS), instalada em 2013 no polo petrolífero de Rio das Ostras (RJ). Hildeu Dellaretti, superintendente de relações institucionais da companhia, relata que a inclusão de TI tem sido fundamental para a otimização logística e ganho de produtividade.